Nota do Cimi: violência contra crianças Yanomami e continuidade do garimpo exigem resposta imediata e efetiva do Estado

O Cimi, entidade membro da Rede Jubileu Sul Brasil, divulgou nota de repúdio a mais uma ação violenta de garimpeiros na TI Yanomami. Ações estatais estão aquém do necessário para garantir paz e segurança aos indígenas.

*Por Conselho Indigenista Missionário – Cimi

Frame do vídeo divulgado pela Hutukara. Crédito: divulgação
Frame do vídeo divulgado pela Hutukara. Crédito: divulgação

O Conselho Indigenista Missionário (Cimi) expressa seu mais contundente repúdio à violência que sofreram as crianças e adolescentes Yanomami da macrorregião de Surucucu – conforme a nota e vídeo trazidos ao público em denúncia pela Hutukara Associação Yanomami (HAY) e amplamente veiculado pela imprensa –, na Terra Indígena (TI) Yanomami.

As crianças foram amarradas em estacas de madeira por garimpeiros que se negam a sair do território e continuam com a prática do garimpo ilegal.

Já se passaram nove meses desde o Decreto de Crise Sanitária e Humanitária e a instalação da Emergência em Saúde Pública de Importância Nacional (Espin). Tais iniciativas vêm sendo acompanhadas pelas operações das forças de segurança para desintrusão do garimpo em território Yanomami. Os resultados das ações implementadas, contudo, estão aquém do esperado.

A esperança trazida pelo novo governo eleito e a retomada do Estado Democrático de Direito, assim como a expectativa de que o território Yanomami seria liberto com ações urgentes e eficazes, contrastam com a realidade evidenciada pelo relatório publicado em julho pelas Associações Hutukara, Wanasseduume Ye’kwana e Urihi. A conclusão do relatório é clara:

“Embora as ações de Proteção Territorial iniciadas em fevereiro de 2023, baseadas sobretudo na estratégia de ‘estrangulamento logístico’, tenham produzido importantes avanços no combate ao garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami, alguns pontos como a flexibilização do controle aéreo por dois meses, a limitação dos esforços de controle territorial a somente duas bases de proteção e a participação limitada das forças armadas não possibilitaram o real controle da atividade, que ainda persiste em alguns núcleos de resistência na TIY”.

A situação, comprovada pela violência contra as crianças trazida ao público na semana passada e em outros relatos recorrentes, como os reunidos no relatório citado, mostra o quanto se está distante de uma ação verdadeira e eficiente de desintrusão e eliminação da violência contra os povos da TI Yanomami.

Diante disso, o Cimi exige:

– A retirada, em regime de urgência, de todos os garimpeiros do território Yanomami, para evitar uma tragédia maior com crianças, adolescentes e toda população Yanomami nas regiões ainda com presença do garimpo;

– Que haja uma melhor coordenação das operações que têm a participação da Polícia Federal, Ibama, Exército, Funai e Força Nacional;

– Que, onde for necessário para garantir a segurança dos indígenas e das equipes dedicadas à assistência da população, seja garantida também a presença das forças de segurança;

– Que, além da definitiva desintrusão dos garimpeiros, seja efetivada a devida e contínua proteção do território Yanomami, para garantir que as operações de combate ao garimpo tenham efeito duradouro e que o atual cenário de invasões e dilapidação do território não mais se repita.

Como afirma a HAY no alerta aos órgãos responsáveis divulgado no dia 20 de setembro, intitulado “Alerta de invasão de garimpo”, esse é mais um caso que evidencia a extrema violência que o povo Yanomami vem sofrendo ao longo de décadas por causa do garimpo. Essas situações, lamentavelmente recorrentes, remontam à chacina de Haximu, violência perpetrada contra o povo Yanomami na década de 1990 que foi tipificada como genocídio pela justiça brasileira.

Até quando o governo brasileiro, na sua morosidade, vai deixar que crianças, mulheres, homens e o povo Yanomami sejam submetidos às violências permanentes, desenfreadas e sistêmicas praticadas por invasores dentro de seu território?

Clamamos por justiça e por uma rápida e urgente resposta do governo brasileiro e dos órgãos competentes, para que nunca mais crianças e adolescentes Yanomami passem por essa violação e sofram atentados às suas vidas.

 

Fuente: Jubileu Sul Brasil

Organizações convocam para Conferência Internacional sobre Soberania Financeira

Conferência Internacional “Soberania Financeira: Dívida, Exploração e Resistências” acontece de 23 a 25 de outubro na cidade de São Paulo, Brasil, para promover pensamento crítico, estratégias e alternativas ao sistema de endividamento causado por organismos como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial para explorar riquezas, impor agenda neoliberal e interferir na soberania dos países do Sul global. 

Por Redação – Jubileu Sul Brasil

De 23 a 25 de outubro se realiza, na capital paulista, a Conferência Internacional “Soberania Financeira: Dívida, Exploração e Resistências”. O encontro reúne organizações, ativistas, acadêmicos, movimentos sociais e comunidades afetadas na América Latina e Caribe com o objetivo de produzir conhecimento crítico sobre as formas e consequências do endividamento e da financeirização como ferramentas de pilhagem e domínio; o respeito aos direitos dos povos e da natureza, e sobre a construção de alternativas urgentes de soberania e defesa dos territórios. As inscrições estão abertas, preenchendo o formulário.

A Conferência Internacional “Soberania Financeira: Dívida, Exploração e Resistências” é promovida por três entidades: Jubileu Sul/Américas (JS/A), uma rede ampla e plural de movimentos sociais, organizações populares, ecumênicas, de mulheres e de direitos humanos, que atua na América Latina e Caribe, unidos numa mobilização global contra a dominação causada pelo sistema de dívidas – por exemplo, dívidas contraídas com bancos privados, Instituições Financeiras Internacionais (IFIs) e organizações multilaterais, como o Banco Mundial (BM) e o Fundo Monetário Internacional Fundo (FMI); pelo Comitê  para a Anulação da Dívida do Terceiro Mundo (CADTM-AYNA), uma rede internacional composta por membros de comités locais baseados na Europa, América Latina e Ásia, que tem trabalho principal, a partir do problema da dívida, consiste na realização e desenvolvimento de alternativas radicais para alcançar a satisfação universal das necessidades, liberdades e direitos humanos fundamentais. 

O terceiro organizador da conferência é o Conselho de Educação Popular da América Latina e do Caribe (CEAAL), um movimento de educação popular que, como rede, atua e acompanha processos de transformação educacional, social, política, cultural e econômica das sociedades latinoamericana e caribenha, nos cenários local, nacional e regional, a partir da perspectiva dos direitos humanos, da equidade de gênero, da interculturalidade crítica e de uma opção ética, pedagógica e política emancipatória. A Rede Jubileu Sul Brasil (JSB), membro da Rede JS/A, é a anfitriã da Conferência que ocorre em São Paulo. 

A proposta desta segunda Conferência é avançar na mesma direção, para fortalecer as lutas dos povos e territórios. Nesse sentido, o encontro internacional também visa atualizar e consolidar o conhecimento crítico sobre o problema da financeirização-extrativismo e seus impactos sobre os corpos, territórios e a natureza; reconhecer e apoiar experiências frente à exploração extrativista, aos megaprojetos e à privatização de bens comuns e públicos. Outro objetivo é somar aliados, estratégias e iniciativas que confrontem o modelo produtivo atual, além de exigência de reparação integral da dívida histórica, social e ecológica.

A soberania é o tema central da conferência inaugural em 23 de outubro. No dia seguinte, a programação segue com reflexões e debates contextualizando as diferentes realidades enfrentadas nos países participantes. Dia 25, terceiro e último dia, o foco é na definição de pontos comuns, estratégias e alternativas aos problemas, a partir dos quais serão definidas diretrizes coletivas de atuação. 

A programação detalhada será divulgada em breve pela Rede Jubileu Sul/Américas. 

Conferência Internacional “Soberania Financeira: Dívida, Exploração e Resistências”
Data: 23, 24 e 25 de outubro de 2023
São Paulo – SP
Inscrições: https://bit.ly/ConferenciaSoberania2023 

Para saber mais: https://jubileusul.org.br/ e https://jubileosuramericas.net/

Agendamento de entrevistas e outras informações:
Comunicação Jubileu Sul Brasil e Jubileu Sul/Américas:
Jucelene Rocha – 55 11 98694-1616
Flaviana Serafim – 55 11 98835-4285
Maraegretta García Espinoza – 505 7888-8474

 

Fuente: Jubileu Sul Brasil

Dívida Pública: Vamos falar sobre isso e mudar a nossa história?

Cartaz-mural traz informações a respeito do percurso histórico e político da dívida pública brasileira e quer ser uma provocação para estimular a reflexão sobre o tema sempre tão restrito a economistas e noticiários, mas que precisa ganhar todos os espaços de articulação popular.

Cartaz-mural afixado no escritório do ESPLAR, entidade membro da Rede Jubileu Sul Brasil que fica em Fortaleza (CE).

Por redação

“A dívida pública é na verdade o maior processo de transferência de renda do mundo! É a partir dela que o dinheiro dos mais pobres vai parar sempre no bolso dos mais ricos”, destaca o texto do cartaz-mural “Dívida Pública: Vamos falar sobre isso e mudar a nossa história?”, iniciativa da Rede Jubileu Sul Brasil para compartilhar informações e motivar a reflexão popular a respeito do tema.

Ao apresentar a trajetória histórica da dívida pública, o texto aponta que é no sistema de endividamento que estão as causas mais profundas da pobreza, da fome, do desemprego e de todas as desigualdades. “Na trajetória histórica entre 1500 e os dias atuais, nossa história de endividamento ilegítimo e ilegal apenas se agravou, tornando-se mais complexa e aprofundando o sistema de desigualdades sociais”, destaca o cartaz-mural.

Entre os temas abordados estão a questão da dívida financeira composta pela dívida pública interna e externa, as dívidas sociais que se apresentam concretamente na ausência ou insuficiência de recursos e políticas públicas em saúde, educação, reforma agrária, moradia, programas de alimentação, segurança pública de qualidade, entre outras deficiências do Estado.

“Somente os juros da dívida pública que são pagos atualmente já superam em muito os gastos em investimento social. Gastos e rolagem com a dívida consumiram 46,3% do orçamento federal em 2022”, destaca a publicação.

A ideia é que o cartaz-mural seja afixado em espaços de circulação popular, organizações sociais, grupos de mulheres, sindicatos, associações, salas de encontro e reuniões, para despertar o interesse pelo tema e provocar a mobilização popular para a participação e incidência na luta para a superação das dívidas sociais e reflexão sobre os caminhos do sistema da dívida pública, que sempre favorece os ricos, por meio do sistema financeiro.

A primeira parte do conteúdo, “Dívida Pública: Vamos falar sobre isso e mudar a nossa história?” traz o histórico político do endividamento público no Brasil. A  segunda parte “Sistema de endividamento: o Brasil saqueado e a origem das desigualdades que se aprofundam”, apresenta uma linha do tempo com os principais acontecimentos de 1500 até os nossos dias. Um conjunto de adesivos também está disponível para impressão e pode ajudar nos processos formativos sobre o tema.

Inicialmente o cartaz-mural será distribuído nos territórios que integram a Ação “Mulheres por Reparação das Dívidas Sociais”, em sete cidades: Belo Horizonte (MG), Fortaleza (CE), Manaus (AM), Porto Alegre (RS), Rio de Janeiro (RJ), Salvador (BA), São Paulo (SP), mas poderá também ser impresso por qualquer grupo que tenha interesse em somar esforços na luta contra o endividamento público.

Acesse o site jubileusul.org.br e baixe o arquivo em PDF para impressão que está disponível na biblioteca. O conteúdo é composto por duas partes, que podem ser impressos em frente e verso. Três modelos de adesivos também estão disponíveis para impressão.

 

Fuente: Jubileu Sul Brasil

Intercâmbios Brasil-Argentina: mulheres na luta por soberania alimentar

Imaginar que a cidade mais violenta da Argentina é também uma referência em políticas públicas para a agricultura urbana parece contraditório. Mas é mesmo a dura realidade de injustiça e opressão que impulsiona trabalhadores e trabalhadoras a construírem alternativas populares de desenvolvimento local e de garantia de alimentação saudável, soberania e segurança alimentar para suas comunidades.

Rosário, localizada na província de Santa Fé, na região central do país, sediou entre os dias 12 a 16 de junho de 2023 o VII Congreso Internacional de Salud Socioambiental y IV Encuentro Intercontinental Madre Tierra una Sola Salud, com o tema “Cuidando la salud de la Madre Tierra en contextos de cambio climático”.

A convite da Fundação Rosa Luxemburgo, uma das instituições apoiadoras do Pacs, nossa coordenadora institucional Aline Lima participou do congresso e também de uma programação de visitas a experiências desenvolvidas em bairros periurbanos da cidade, onde principalmente as mulheres protagonizam iniciativas de auto organização popular, em resposta às violências cotidianas e à fome.

A andança começou pela ida aos espaços de dois parques-hortas e um centro agroecológico que integram políticas públicas de hortas comunitárias e de alimentação saudável para a população. Depois, o grupo conheceu o projeto Ciudad Sin Miedo, promovido pelo Ciudad Futura, um partido político local que nasceu como movimento social enraizado no bairro Nuevo Alberdi.

Ali se inauguraram algumas iniciativas de construção de alternativas populares de desenvolvimento territorial, de recuperação de áreas degradadas e de solução para problemas como a ausência de postos de saúde e escolas nos bairros mais periféricos.

Em Nuevo Alberdi, há uma escola comunitária mantida pelos próprios trabalhadores e trabalhadoras, um comedor (restaurante) popular – o primeiro do país, que também tem uma política pública e uma rede de comedores que garantem acesso à alimentação para parte da população que vive em insegurança alimentar – e o Tampo de la Revolución – uma fábrica de laticínios que estava abandonada e foi recuperada pelos trabalhadores e trabalhadoras.

 

 

Os laços gestados nos diálogos durante o Congresso também nos levaram à conexão com a Unión de Trabajadores y Trabajadoras de la Tierra (UTT), um movimento que reúne mais de 22 mil famílias campesinas organizadas na produção de alimentos e na luta por soberania, justiça e igualdade.

Nossa coordenadora Aline teve, então, a oportunidade de conhecer a Colônia Agroecológica Jsuregui – considerada a primeira colônia agroecológica do país, formada por centenas de produtores imigrantes bolivianos – e um dos armazéns agroecológicos da UTT, semelhantes à proposta de armazéns do campo do MST que temos no Brasil, destinada à comercialização dos agricultores e agricultoras do movimento. Participou também do lançamento do Centro de Estudios de la Tierra em parceria com movimentos sociais e a Universidade de Buenos Aires, que reúne acadêmicos, militantes e agricultores para pensar a produção de conhecimento sobre soberania e segurança alimentar, acesso aos mercados e políticas públicas para a Agroecologia.

“(Na colônia), participei de uma atividade de coleta de histórias de vida dessas mulheres agricultoras para um livro que será produzido. Trocamos muito sobre metodologias feministas, educação popular, a maneira como fazemos nossos intercâmbios e construímos nossos materiais no Pacs. Juntas, começamos a pensar em como poderíamos promover trocas de saberes entre as mulheres da UTT e as daqui, para refletir como nosso saber-fazer agroecológico tem ressonância com os processos de lá, observar os processos de enfrentamento comuns, porque temos muitas similaridades: a falta de políticas públicas, de investimento, a dificuldade de acesso a mercado, as questões de violência”, conta.

Entre essas similaridades, está o lugar da cozinha na vida das mulheres. Na caminhada do Pacs com os coletivos de agroecologia do Rio de Janeiro, vimos esse lugar ser ressignificado a partir do reconhecimento da potência da cozinha como um lugar de força e confiança entre as mulheres. A publicação “Memórias de Cozinha: mulheres e receitas insurgentes” e o documentário “Cochichos de cozinha: afeto e política na mesa” resultam desse processo.

Aline segue contando: “Durante muito tempo, sobretudo na caminhada dentro da economia feminista, a cozinha era um lugar que deveria ser superado pelas mulheres. É um caminho de volta muito importante, quando nos deparamos com as mulheres da agroecologia, que afirmam suas pequenas produções, o beneficiamento de alimentos, o cuidado com as sementes e do papel de alimentar suas famílias como um lugar precioso e de muita potência. Eu ouvi de uma agricultora que a cozinha é esse lugar precioso porque é onde os homens não entram e elas conseguem contar seus segredos. Entendi essa dimensão da cozinha enquanto trincheira de luta, lugar de proteção. Ela estava falando tudo aquilo pra gente mexendo no seu caldeirão, contando sua história e fazendo da cozinha um espaço de confiança entre mulheres. Ao mesmo tempo, ela falava do quanto era importante ter conquistado seu pedaço de terra, do qual ela não abriria mão, para conseguir plantar e produzir alimentos saudáveis para aquela comunidade. E aquilo tinha combatido boa parte da fome daquele lugar. Existe uma luta que muitas vezes é silenciosa mas muito potente. O que eu vi lá é muito próximo do que eu vejo nas comunidades daqui”.

A partir daí, logo nasceu o primeiro intercâmbio latino-americano entre a UTT e as mulheres do Centro de Integração da Serra da Misericórdia (CEM), no Complexo da Penha, zona norte do Rio. No dia 31 de julho, duas companheiras do movimento argentino vieram ao Brasil e puderam conhecer a experiência carioca. Aline explica que “foi um encontro para pensar de que maneira a gente consegue aproximar essas mulheres que vêm de uma realidade de agricultura muito indígena, que trazem essa herança, para intercambiar similaridades e diferenças da agroecologia que é feita nas favelas”.

Glória, umas visitantes, compartilha sua experiência: “Uma das coisas que mais me chamou atenção e me comoveu foi que, depois de atravessar a favela e ver o quão difícil é a vida em um espaço militarizado, um espaço de morte, praticamente, as mulheres, com seu amor e esforço, constroem vida”.

Ao mesmo tempo em que o cenário de armamento ostensivo choca quem percorre o caminho até o CEM, um novo impacto salta aos olhos ao chegar e ver a agrofloresta, lago de peixes e os quintais produtivos cuidados pelo coletivo de mulheres. As anfitriãs também ficaram muito felizes de mostrar seu trabalho para as companheiras da Argentina, tornando vivas as suas histórias e se nutrindo da força de ver a admiração das visitantes pelo que fazem. “Um trabalho incrível sendo feito numa região que é palco do genocídio da população negra e do confronto entre grupos armados”, explica Aline.

“As semelhanças que temos é a maneira agroecológica de produzir, pensando em utilizar adubos naturais, ver a importância das sementes crioulas e sobretudo o lugar central que ocupam as mulheres, onde elas são protagonistas”, complementa Glória.

O encontro foi um momento que marca o plantio de uma pequenina e ao mesmo tempo grandiosa primeira semente para fazer brotar coisas muito valiosas para as lutas dessas mulheres, a partir dessa troca de saberes e do fortalecimento mútuo entre elas.

Glória explica que as expectativas são de poder gerar novos momentos de intercâmbio entre as companheiras do CEM e as mulheres da UTT, para que possam “conhecer e intercambiar experiências, conhecimentos e potencializar todo esse movimento pela agroecologia, pelo cuidado com a vida, de pensar na elaboração e no consumo de alimentos sadios, onde os saberes ancestrais também sejam chave para aprofundar a luta por soberania alimentar”.

Fuente: PACS

Pueblos originarios. Brasil: Mujeres tembé denuncian persecución y racismo en medio de la ‘Guerra Dendê’ en Pará

Madre e hija: Deusalina y Mainumy viven en tierras indígenas no reguladas rodeadas de plantaciones de palma aceitera – Murilo Pajolla/Brasil de Fato

Por Murilo Pajolla /Brasil de Fato /Resumen Latinoamericano.17 de septiembre de 2023.

Además del impacto ambiental, los indígenas reportan efectos psicológicos de la lucha constante contra el gigante agroindustrial

Mainumy Tembé, de 35 años, perdió a su hija Maiuna hace tres meses, durante un embarazo de alto riesgo. La dirigencia indígena de la aldea Pitàwà, en el municipio de Tomé-Açu, en el noreste de Pará, atravesaba un embarazo marcado por complicaciones derivadas de la hipertensión arterial y otras comorbilidades. Mientras llora como madre, se organiza con sus familiares para luchar contra los impactos devastadores de Brasil BioFuels (BBF) en las tierras indígenas. 

“Me han dicho que vaya a un psicólogo, pero no tengo tiempo para eso. No sé cómo es el tratamiento, dicen que reduce el dolor. Pero no sé si eso es posible”, dice Mainumy Tembé.

:: ¿  Cuál es el origen de la ‘Guerra Dendê’ en Pará y por qué los indígenas Tembé quieren expulsar a Brasil BioFuels (BBF) ::

Este es uno de los dramas personales de las mujeres tembé que se esconden en medio de la ” Guerra Dendê “, uno de los conflictos territoriales más graves en curso en Brasil, que ya ha dejado al menos cinco muertos y que enfrenta a indígenas y quilombolas con el agronegocio. BBF gigante. 

“Hoy miro a mi hijo y le doy un abrazo de despedida. Porque no sabemos si estaré aquí mañana. Esa es nuestra vida hoy. Dormimos por las noches en el pueblo y no sabemos si nuestro pueblo será invadido. ” , dice Mainumy. 

A medida que se multiplican los casos de indígenas baleados por los guardias de seguridad privados de la empresa, aumenta el nivel de estrés y sufrimiento psicológico de las mujeres que necesitan conciliar las tareas domésticas, el cuidado de niños y ancianos y el miedo a vivir bajo una amenaza permanente.

“Sólo voy a llorar más por la noche, cuando me vaya a la cama. Y apenas duermo pensando en qué hacer mañana. Sólo una madre sabe lo que es perder a un hijo. Lo único que queda es el anhelo. Vemos los familiares que murieron, los familiares que están en el hospital. Es mucho dolor”, dice Mainumy, sin poder evitar las lágrimas. 

::  Rodeados de aceite de palma, pueblos tradicionales viven aterrorizados en disputa con productor de biodiesel ::

Brasil de Fato escuchó a tres mujeres indígenas tembé del municipio de Tomé-Açu (PA), que lideran comunidades indígenas fuera de tierras demarcadas y, por lo tanto, más susceptibles a la violencia armada. Todos evitan salir solos de casa y dicen ser conscientes de que podrían ser los próximos en morir.  

La madre de Mainumy, Deusalina Tembé, de 64 años, oculta las lágrimas cuando escucha a su hija hablar sobre la interrupción del embarazo. Pero no puede contener las lágrimas cuando describe su vida cotidiana en medio de los graves impactos ambientales causados ​​por las plantaciones de palma aceitera del BBF. 

“Antes, cuando vivía con mi padre, llevábamos una vida tranquila. Dormíamos, nos despertábamos y íbamos al campo. Hoy en día la yuca ya no crece, nace podrida. Los frutos también. Y simplemente vivimos por miedo ya no puede dormir bien. Todo por culpa de esta maldita compañía [BBF]”, narra Deusalina. 

La ampliación de tierras ya demarcadas y la regularización de otras áreas indígenas es una demanda de los pueblos indígenas desde hace 30 años. A principios de agosto, la presidenta de la Fundación Nacional de los Pueblos Indígenas (Funai), Joenia Wapichana, dijo al Tembé que el organismo indígena formará grupos de trabajo para investigar cada solicitud. También afirmó que ha trabajado en alianza con los órganos de Seguridad Pública y la Secretaría de los Pueblos Indígenas de Pará para que los involucrados en el ataque al pueblo indígena Tembé sean identificados y rindan cuentas.

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Drones, cámaras y paredes 

“Nuestra lucha tocó los intereses de los grandes empresarios, de los grandes agronegocios. Y nos quitó la libertad de ir y venir”, resume Miriam Tembé, presidenta de la Asociación Indígena Tembé Vale do Acará.

El líder Tembé tampoco sabe lo que es dormir una noche entera. Para intentar aliviar la preocupación constante de sus hijos, nietos y otros 30 residentes de la comunidad de I’ixing, ordenó la construcción de un muro de ladrillos que separa el pequeño pueblo de la carretera y de las granjas ganaderas. Otro refuerzo fue la instalación de cámaras de seguridad.

Miriam Tembé muestra una hoja de palma a pocos metros de la casa donde vive / Murilo Pajolla/Brasil de Fato

“Soy líder, pero también soy humana. Tengo tres hijos y cuatro nietos. Cualquier ruido extraño ya nos asusta. No hay forma de llegar a casa, acostarnos y dormir tranquilos”, dice Miriam Tembé. renunciar. 

Según Miriam, ni siquiera las cámaras y las paredes son capaces de mantener a raya el peligro. Comenzó a notar drones sobrevolando la comunidad I’ixing.

“Gira y se mueve, miras hacia arriba y ves el dron sobrevolando, observándonos noche y día. [Monitoreando] si estamos en nuestra aldea, si salimos, cuántas personas hay en nuestra aldea, si hay una reunión o no”, in

Además, la hostilidad en la ciudad 

Mientras estaba embarazada de Maiuna, Mainumy alquiló una casa en el casco urbano de Tomé-Açu (PA), en el distrito de Quatro Bocas. Desde que comenzó la lucha contra los impactos del BBF, dice haber sentido el racismo por parte de los habitantes de la ciudad.

“Antes nos miraban con otros ojos. No diré que era con respeto. Pensaban que éramos ingenuos. Cuando se dieron cuenta de que sabíamos defendernos, empezaron esas palabras racistas”, afirma. 

En las redes sociales, Mainumy lee los comentarios sobre las noticias que involucran al BBF y al Tembé. Y se encuentra con personas que ponen a prueba la identidad indígena de los Tembé. “Esto no es indio ni aquí ni en China”, escribió un internauta. 

La lectura de los insultos racistas hace que Mainumy recuerde inmediatamente a su abuelo, que vivía dentro del bosque y producía harina para vender en las propiedades rurales de los alrededores, mucho antes de la llegada del BBF. El saco de harina, recuerda Mainumy con orgullo, lo llevaba su abuelo a la espalda.

“Le pregunto a quien dice estos insultos: ¿quién eres? ¿De dónde eres? ¿Conoces tu origen? Yo conozco el mío. Y no me iré de aquí”, dice Mainumy. 

Otro lado 

BBF afirma que su seguridad privada actúa para defender la integridad de sus empleados, maquinaria e instalaciones, contra “invasores” y “delincuentes”. Sostiene además que realiza “cultivo sustentable de palma en el estado, ejerciendo la posesión pacífica, justa e ininterrumpida de las áreas privadas de la empresa”. 

Respecto al uso de drones para vigilancia, la BBF afirmó en un comunicado que la acusación “no es válida”. “Además de que los propios indígenas admiten que no tienen pruebas para tal acusación, el Grupo BBF refuerza que no utiliza drones para el seguimiento”, escribió la empresa. 

Edición: Rodrigo Chagas

 

Fuente: Resumen Latinoamericano