Organizações convocam para Conferência Internacional sobre Soberania Financeira

Conferência Internacional “Soberania Financeira: Dívida, Exploração e Resistências” acontece de 23 a 25 de outubro na cidade de São Paulo, Brasil, para promover pensamento crítico, estratégias e alternativas ao sistema de endividamento causado por organismos como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial para explorar riquezas, impor agenda neoliberal e interferir na soberania dos países do Sul global. 

Por Redação – Jubileu Sul Brasil

De 23 a 25 de outubro se realiza, na capital paulista, a Conferência Internacional “Soberania Financeira: Dívida, Exploração e Resistências”. O encontro reúne organizações, ativistas, acadêmicos, movimentos sociais e comunidades afetadas na América Latina e Caribe com o objetivo de produzir conhecimento crítico sobre as formas e consequências do endividamento e da financeirização como ferramentas de pilhagem e domínio; o respeito aos direitos dos povos e da natureza, e sobre a construção de alternativas urgentes de soberania e defesa dos territórios. As inscrições estão abertas, preenchendo o formulário.

A Conferência Internacional “Soberania Financeira: Dívida, Exploração e Resistências” é promovida por três entidades: Jubileu Sul/Américas (JS/A), uma rede ampla e plural de movimentos sociais, organizações populares, ecumênicas, de mulheres e de direitos humanos, que atua na América Latina e Caribe, unidos numa mobilização global contra a dominação causada pelo sistema de dívidas – por exemplo, dívidas contraídas com bancos privados, Instituições Financeiras Internacionais (IFIs) e organizações multilaterais, como o Banco Mundial (BM) e o Fundo Monetário Internacional Fundo (FMI); pelo Comitê  para a Anulação da Dívida do Terceiro Mundo (CADTM-AYNA), uma rede internacional composta por membros de comités locais baseados na Europa, América Latina e Ásia, que tem trabalho principal, a partir do problema da dívida, consiste na realização e desenvolvimento de alternativas radicais para alcançar a satisfação universal das necessidades, liberdades e direitos humanos fundamentais. 

O terceiro organizador da conferência é o Conselho de Educação Popular da América Latina e do Caribe (CEAAL), um movimento de educação popular que, como rede, atua e acompanha processos de transformação educacional, social, política, cultural e econômica das sociedades latinoamericana e caribenha, nos cenários local, nacional e regional, a partir da perspectiva dos direitos humanos, da equidade de gênero, da interculturalidade crítica e de uma opção ética, pedagógica e política emancipatória. A Rede Jubileu Sul Brasil (JSB), membro da Rede JS/A, é a anfitriã da Conferência que ocorre em São Paulo. 

A proposta desta segunda Conferência é avançar na mesma direção, para fortalecer as lutas dos povos e territórios. Nesse sentido, o encontro internacional também visa atualizar e consolidar o conhecimento crítico sobre o problema da financeirização-extrativismo e seus impactos sobre os corpos, territórios e a natureza; reconhecer e apoiar experiências frente à exploração extrativista, aos megaprojetos e à privatização de bens comuns e públicos. Outro objetivo é somar aliados, estratégias e iniciativas que confrontem o modelo produtivo atual, além de exigência de reparação integral da dívida histórica, social e ecológica.

A soberania é o tema central da conferência inaugural em 23 de outubro. No dia seguinte, a programação segue com reflexões e debates contextualizando as diferentes realidades enfrentadas nos países participantes. Dia 25, terceiro e último dia, o foco é na definição de pontos comuns, estratégias e alternativas aos problemas, a partir dos quais serão definidas diretrizes coletivas de atuação. 

A programação detalhada será divulgada em breve pela Rede Jubileu Sul/Américas. 

Conferência Internacional “Soberania Financeira: Dívida, Exploração e Resistências”
Data: 23, 24 e 25 de outubro de 2023
São Paulo – SP
Inscrições: https://bit.ly/ConferenciaSoberania2023 

Para saber mais: https://jubileusul.org.br/ e https://jubileosuramericas.net/

Agendamento de entrevistas e outras informações:
Comunicação Jubileu Sul Brasil e Jubileu Sul/Américas:
Jucelene Rocha – 55 11 98694-1616
Flaviana Serafim – 55 11 98835-4285
Maraegretta García Espinoza – 505 7888-8474

 

Fuente: Jubileu Sul Brasil

Dívida Pública: Vamos falar sobre isso e mudar a nossa história?

Cartaz-mural traz informações a respeito do percurso histórico e político da dívida pública brasileira e quer ser uma provocação para estimular a reflexão sobre o tema sempre tão restrito a economistas e noticiários, mas que precisa ganhar todos os espaços de articulação popular.

Cartaz-mural afixado no escritório do ESPLAR, entidade membro da Rede Jubileu Sul Brasil que fica em Fortaleza (CE).

Por redação

“A dívida pública é na verdade o maior processo de transferência de renda do mundo! É a partir dela que o dinheiro dos mais pobres vai parar sempre no bolso dos mais ricos”, destaca o texto do cartaz-mural “Dívida Pública: Vamos falar sobre isso e mudar a nossa história?”, iniciativa da Rede Jubileu Sul Brasil para compartilhar informações e motivar a reflexão popular a respeito do tema.

Ao apresentar a trajetória histórica da dívida pública, o texto aponta que é no sistema de endividamento que estão as causas mais profundas da pobreza, da fome, do desemprego e de todas as desigualdades. “Na trajetória histórica entre 1500 e os dias atuais, nossa história de endividamento ilegítimo e ilegal apenas se agravou, tornando-se mais complexa e aprofundando o sistema de desigualdades sociais”, destaca o cartaz-mural.

Entre os temas abordados estão a questão da dívida financeira composta pela dívida pública interna e externa, as dívidas sociais que se apresentam concretamente na ausência ou insuficiência de recursos e políticas públicas em saúde, educação, reforma agrária, moradia, programas de alimentação, segurança pública de qualidade, entre outras deficiências do Estado.

“Somente os juros da dívida pública que são pagos atualmente já superam em muito os gastos em investimento social. Gastos e rolagem com a dívida consumiram 46,3% do orçamento federal em 2022”, destaca a publicação.

A ideia é que o cartaz-mural seja afixado em espaços de circulação popular, organizações sociais, grupos de mulheres, sindicatos, associações, salas de encontro e reuniões, para despertar o interesse pelo tema e provocar a mobilização popular para a participação e incidência na luta para a superação das dívidas sociais e reflexão sobre os caminhos do sistema da dívida pública, que sempre favorece os ricos, por meio do sistema financeiro.

A primeira parte do conteúdo, “Dívida Pública: Vamos falar sobre isso e mudar a nossa história?” traz o histórico político do endividamento público no Brasil. A  segunda parte “Sistema de endividamento: o Brasil saqueado e a origem das desigualdades que se aprofundam”, apresenta uma linha do tempo com os principais acontecimentos de 1500 até os nossos dias. Um conjunto de adesivos também está disponível para impressão e pode ajudar nos processos formativos sobre o tema.

Inicialmente o cartaz-mural será distribuído nos territórios que integram a Ação “Mulheres por Reparação das Dívidas Sociais”, em sete cidades: Belo Horizonte (MG), Fortaleza (CE), Manaus (AM), Porto Alegre (RS), Rio de Janeiro (RJ), Salvador (BA), São Paulo (SP), mas poderá também ser impresso por qualquer grupo que tenha interesse em somar esforços na luta contra o endividamento público.

Acesse o site jubileusul.org.br e baixe o arquivo em PDF para impressão que está disponível na biblioteca. O conteúdo é composto por duas partes, que podem ser impressos em frente e verso. Três modelos de adesivos também estão disponíveis para impressão.

 

Fuente: Jubileu Sul Brasil

Intercâmbios Brasil-Argentina: mulheres na luta por soberania alimentar

Imaginar que a cidade mais violenta da Argentina é também uma referência em políticas públicas para a agricultura urbana parece contraditório. Mas é mesmo a dura realidade de injustiça e opressão que impulsiona trabalhadores e trabalhadoras a construírem alternativas populares de desenvolvimento local e de garantia de alimentação saudável, soberania e segurança alimentar para suas comunidades.

Rosário, localizada na província de Santa Fé, na região central do país, sediou entre os dias 12 a 16 de junho de 2023 o VII Congreso Internacional de Salud Socioambiental y IV Encuentro Intercontinental Madre Tierra una Sola Salud, com o tema “Cuidando la salud de la Madre Tierra en contextos de cambio climático”.

A convite da Fundação Rosa Luxemburgo, uma das instituições apoiadoras do Pacs, nossa coordenadora institucional Aline Lima participou do congresso e também de uma programação de visitas a experiências desenvolvidas em bairros periurbanos da cidade, onde principalmente as mulheres protagonizam iniciativas de auto organização popular, em resposta às violências cotidianas e à fome.

A andança começou pela ida aos espaços de dois parques-hortas e um centro agroecológico que integram políticas públicas de hortas comunitárias e de alimentação saudável para a população. Depois, o grupo conheceu o projeto Ciudad Sin Miedo, promovido pelo Ciudad Futura, um partido político local que nasceu como movimento social enraizado no bairro Nuevo Alberdi.

Ali se inauguraram algumas iniciativas de construção de alternativas populares de desenvolvimento territorial, de recuperação de áreas degradadas e de solução para problemas como a ausência de postos de saúde e escolas nos bairros mais periféricos.

Em Nuevo Alberdi, há uma escola comunitária mantida pelos próprios trabalhadores e trabalhadoras, um comedor (restaurante) popular – o primeiro do país, que também tem uma política pública e uma rede de comedores que garantem acesso à alimentação para parte da população que vive em insegurança alimentar – e o Tampo de la Revolución – uma fábrica de laticínios que estava abandonada e foi recuperada pelos trabalhadores e trabalhadoras.

 

 

Os laços gestados nos diálogos durante o Congresso também nos levaram à conexão com a Unión de Trabajadores y Trabajadoras de la Tierra (UTT), um movimento que reúne mais de 22 mil famílias campesinas organizadas na produção de alimentos e na luta por soberania, justiça e igualdade.

Nossa coordenadora Aline teve, então, a oportunidade de conhecer a Colônia Agroecológica Jsuregui – considerada a primeira colônia agroecológica do país, formada por centenas de produtores imigrantes bolivianos – e um dos armazéns agroecológicos da UTT, semelhantes à proposta de armazéns do campo do MST que temos no Brasil, destinada à comercialização dos agricultores e agricultoras do movimento. Participou também do lançamento do Centro de Estudios de la Tierra em parceria com movimentos sociais e a Universidade de Buenos Aires, que reúne acadêmicos, militantes e agricultores para pensar a produção de conhecimento sobre soberania e segurança alimentar, acesso aos mercados e políticas públicas para a Agroecologia.

“(Na colônia), participei de uma atividade de coleta de histórias de vida dessas mulheres agricultoras para um livro que será produzido. Trocamos muito sobre metodologias feministas, educação popular, a maneira como fazemos nossos intercâmbios e construímos nossos materiais no Pacs. Juntas, começamos a pensar em como poderíamos promover trocas de saberes entre as mulheres da UTT e as daqui, para refletir como nosso saber-fazer agroecológico tem ressonância com os processos de lá, observar os processos de enfrentamento comuns, porque temos muitas similaridades: a falta de políticas públicas, de investimento, a dificuldade de acesso a mercado, as questões de violência”, conta.

Entre essas similaridades, está o lugar da cozinha na vida das mulheres. Na caminhada do Pacs com os coletivos de agroecologia do Rio de Janeiro, vimos esse lugar ser ressignificado a partir do reconhecimento da potência da cozinha como um lugar de força e confiança entre as mulheres. A publicação “Memórias de Cozinha: mulheres e receitas insurgentes” e o documentário “Cochichos de cozinha: afeto e política na mesa” resultam desse processo.

Aline segue contando: “Durante muito tempo, sobretudo na caminhada dentro da economia feminista, a cozinha era um lugar que deveria ser superado pelas mulheres. É um caminho de volta muito importante, quando nos deparamos com as mulheres da agroecologia, que afirmam suas pequenas produções, o beneficiamento de alimentos, o cuidado com as sementes e do papel de alimentar suas famílias como um lugar precioso e de muita potência. Eu ouvi de uma agricultora que a cozinha é esse lugar precioso porque é onde os homens não entram e elas conseguem contar seus segredos. Entendi essa dimensão da cozinha enquanto trincheira de luta, lugar de proteção. Ela estava falando tudo aquilo pra gente mexendo no seu caldeirão, contando sua história e fazendo da cozinha um espaço de confiança entre mulheres. Ao mesmo tempo, ela falava do quanto era importante ter conquistado seu pedaço de terra, do qual ela não abriria mão, para conseguir plantar e produzir alimentos saudáveis para aquela comunidade. E aquilo tinha combatido boa parte da fome daquele lugar. Existe uma luta que muitas vezes é silenciosa mas muito potente. O que eu vi lá é muito próximo do que eu vejo nas comunidades daqui”.

A partir daí, logo nasceu o primeiro intercâmbio latino-americano entre a UTT e as mulheres do Centro de Integração da Serra da Misericórdia (CEM), no Complexo da Penha, zona norte do Rio. No dia 31 de julho, duas companheiras do movimento argentino vieram ao Brasil e puderam conhecer a experiência carioca. Aline explica que “foi um encontro para pensar de que maneira a gente consegue aproximar essas mulheres que vêm de uma realidade de agricultura muito indígena, que trazem essa herança, para intercambiar similaridades e diferenças da agroecologia que é feita nas favelas”.

Glória, umas visitantes, compartilha sua experiência: “Uma das coisas que mais me chamou atenção e me comoveu foi que, depois de atravessar a favela e ver o quão difícil é a vida em um espaço militarizado, um espaço de morte, praticamente, as mulheres, com seu amor e esforço, constroem vida”.

Ao mesmo tempo em que o cenário de armamento ostensivo choca quem percorre o caminho até o CEM, um novo impacto salta aos olhos ao chegar e ver a agrofloresta, lago de peixes e os quintais produtivos cuidados pelo coletivo de mulheres. As anfitriãs também ficaram muito felizes de mostrar seu trabalho para as companheiras da Argentina, tornando vivas as suas histórias e se nutrindo da força de ver a admiração das visitantes pelo que fazem. “Um trabalho incrível sendo feito numa região que é palco do genocídio da população negra e do confronto entre grupos armados”, explica Aline.

“As semelhanças que temos é a maneira agroecológica de produzir, pensando em utilizar adubos naturais, ver a importância das sementes crioulas e sobretudo o lugar central que ocupam as mulheres, onde elas são protagonistas”, complementa Glória.

O encontro foi um momento que marca o plantio de uma pequenina e ao mesmo tempo grandiosa primeira semente para fazer brotar coisas muito valiosas para as lutas dessas mulheres, a partir dessa troca de saberes e do fortalecimento mútuo entre elas.

Glória explica que as expectativas são de poder gerar novos momentos de intercâmbio entre as companheiras do CEM e as mulheres da UTT, para que possam “conhecer e intercambiar experiências, conhecimentos e potencializar todo esse movimento pela agroecologia, pelo cuidado com a vida, de pensar na elaboração e no consumo de alimentos sadios, onde os saberes ancestrais também sejam chave para aprofundar a luta por soberania alimentar”.

Fuente: PACS

Governo brasileiro deve desenvolver ‘nova cooperação’ com o Haiti, diz liderança haitiana

Camille Chalmers destacou o legado negativo da Minustah para o país

‘Faremos todo o possível para projetar a voz do povo haitiano, que não quer uma nova intervenção militar’ – Neidyson Cézaire/Radyo Rezistans

Os movimentos populares haitianos organizados esperam uma avaliação imparcial do Brasil e da comunidade internacional sobre o legado da Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti (Minustah). “O balanço da Minustah no Haiti foi catastrófico para o povo haitiano. Contribuiu muito para enfraquecer o Estado. Contribuiu para aumentar a dependência frente aos Estados Unidos. E gerou uma aliança estratégica com a extrema direita”, afirmou o economista e professor haitiano Camille Chambers.

A missão, que funcionou entre 2005 e 2017, foi comandada pelo Brasil. Um dos comandantes da iniciativa foi o general Augusto Heleno, que posteriormente foi ministro do governo Bolsonaro e é suspeito de envolvimento com os atos golpistas de 8 de janeiro. Chambers lembrou que, além das consequências políticas, a Minustah foi responsável pelo abandono de crianças haitianas, filhas de soldados brasileiros, e pela epidemia de cólera, doença levada por soldados nepaleses que vitimou cerca de 40 mil pessoas no país. 

“Alguns militares até disseram que o trabalho das tropas brasileiras no Haiti foi um treinamento para reforçar a repressão e o controle das favelas de São Paulo e do Rio de Janeiro. Portanto, espero que o atual governo brasileiro compreenda essa questão e permita o desenvolvimento de uma nova cooperação que realmente leve em consideração os interesses e a vontade do povo do Haiti”, disse.

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Chambers é integrante da Plataforma para o Desenvolvimento Alternativo do Haiti (Papda), uma coalização de organizações populares que existe desde 1995 e luta contra políticas neoliberais. O economista é um dos principais intelectuais e dirigentes políticos do Haiti e recebeu o Brasil de Fato para uma entrevista em conjunto com o jornal mexicano La Jornada, na capital do país, Porto Príncipe. 

Na entrevista, ele também falou sobre a dificuldade de integração do Haiti a América Latina e ao Caribe em termos políticos, econômicos e comerciais. “Temos uma integração incompleta”. Para Chambers houve um isolamento do Haiti por outros países da América Latina desde a Revolução Haitiana em 1804, mas considera a conexão com o continente essencial para o desenvolvimento do país. “Deveríamos desenvolver uma diplomacia cidadã agressiva para ligar o Haiti à luta dos povos dos afrodescendentes na América do Norte e em todo o continente”. 

Chambers também falou sobre a rejeição do povo haitiano a uma nova intervenção externa, as dificuldades educacionais do país e a importância da Revolução Haitiana para os rumos do continente. Leia a entrevista completa a seguir:

O que é e quais são os objetivos da Plataforma para o Desenvolvimento Alternativo do Haiti (Papda).

Camille Chalmers: É uma coalizão de organizações nascida em 1995. Naquela época havíamos passado por uma mudança cultural importante, por causa do golpe de Estado de 1991 contra o governo de Jean-Bertrand Aristide, e em 1994 foi feita uma restauração, um retorno à Constituição. Estávamos em um período muito decisivo para a política haitiana, porque havia a contradição de que o retorno de Aristide era uma vitória popular que permitiria neutralizar a ofensiva da direita que buscava restaurar a ditadura, mas, ao mesmo tempo, a condição para a volta dele era a aplicação de um novo plano de ajuste estrutural. Então, para eles, era o cenário ideal ter um líder popular que aplicasse as medidas estabelecidas pelo Fundo Monetário Internacional (FMI).

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Por isso, fundamos a Papda, para explicar qual era o conteúdo desse plano, quais as consequências dele e por que os Estados Unidos apoiaram o retorno de Aristide com essa condição. Criamos, então, uma plataforma de organizações para lutar contra as políticas neoliberais.

A Papda também surgiu de um processo coletivo de autoavaliação dos movimentos sociais e populares, que perceberam que após a experiência do golpe era necessária uma reavaliação para desenhar novas estratégias. Assim, o principal objetivo da Papda era lutar contra as políticas neoliberais, garantir a coesão dentro do movimento popular e social anti-imperialista e também trabalhar para aproximar os movimentos sociais haitianos do movimento anti-imperialista internacional, da América Latina e Caribe, mais especificamente. 

Em termos continentais, quais são os desafios da integração latino-americana e caribenha para o Haiti?

Bom, primeiro temos que colocar isso em dois níveis, o nível caribenho e o nível latino-americano e caribenho. Durante o governo de Hugo Chávez [na Venezuela], o Haiti se beneficiou de um programa muito importante, chamado Petrocaribe, que permitiu ao Estado haitiano ter acesso a uma grande liquidez – 400 a 500 milhões de dólares por ano. Pela primeira vez, o Estado haitiano teve acesso a isso sem restrições. Além disso, desde 1998, existe uma cooperação com Cuba, uma brigada médica cubana aqui, muito importante, que tem feito um trabalho maravilhoso na saúde pública. Embora o governo de Jovenal Moïse tenha tentado cancelar esse programa, não conseguiu. Porque a população tomou a frente para manter os médicos cubanos. Construiu-se com eles uma relação muito bonita de fraternidade e solidariedade.

Depois do golpe de 1991, participamos de uma assembleia chamada Assembleia Popular do Caribe (Caricom), que é um agrupamento de todas as organizações anti-imperialistas da região. E pudemos informar aos irmãos e irmãs caribenhos o que estava acontecendo em relação ao golpe e, em muitos países caribenhos, a população se mobilizou. Os países da Caricom fizeram todo um trabalho de lobby e pressão para acabar com o golpe militar. Depois disso, quando Aristide voltou à presidência, foi estabelecido um processo de negociação para a integração do Haiti no Caricom. Portanto, foi um passo muito importante, porque o Haiti vive isolado desde 1804, foi um passo importante de integração a uma estrutura regional.

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Aquela foi uma integração incompleta. Por exemplo, embora o Haiti seja o país com a maior população em todo a Caricom – somos mais de 50% da população total do Caricom –, quando a Caricom se reúne, eles falam em inglês. O crioulo [idioma oficial do país ao lado do francês] não é um instrumento de trabalho. Há também muita marginalização do Haiti sob o pretexto da migração ilegal. Então estamos dizendo que, para a integração completa do Haiti, devemos primeiro integrar o crioulo como instrumento de trabalho da Caricom e devemos também desenvolver todo um trabalho para que se conheça melhor não só a trajetória histórica do Haiti, como também a cultura haitiana. 

Existe, por exemplo, uma procura por produtos artesanais do Haiti vinda de todo o Caribe, mas ela não pode ser concretizada porque, em primeiro lugar, não é conhecida e, em segundo, não existem circuitos diretos de comercialização. Para produtos artesanais, por exemplo, há uma forte demanda por produtos artesanais haitianos em Trinidad e Tobago, mas é preciso passar por Miami. Então, quando [os produtos] chegam a Trinidad, são muito caros.

Portanto, todo esse trabalho tem de ser feito. E também propomos que a Universidade das Índias Ocidentais – que é uma universidade caribenha de propriedade de todos os Estados-membros da Caricom – abra um campus no Haiti. Porque é um direito, pertence aos Estados, e isso facilitaria muito a redução do déficit que temos no nível de ensino superior. Todos os anos temos 70 mil estudantes prontos para ingressar na universidade pública, e a universidade tem capacidade para acomodar apenas 1,5 mil. Então é um déficit muito grande e isso explica também a migração de jovens para estudar. Por exemplo, há mais de 60 mil estudantes haitianos em Santiago, na República Dominicana. Então isso desestrutura um pouco a possibilidade de reprodução de mão de obra qualificada. São elementos importantes, mas para conseguir isso teríamos que ter um Estado com outra leitura, um Estado que realmente tenha um projeto de construção nacional, uma visão totalmente diferente.

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Também acreditamos que deveríamos desenvolver uma diplomacia cidadã agressiva para ligar o Haiti à luta dos povos dos afrodescendentes na América do Norte e em todo o continente. Os afrodescendentes, como é sabido, fazem parte da população mais pobre e mais marginalizada, junto com os indígenas. E acredito que o símbolo da luta antiescravagista e anticolonial haitiana poderia ser o investimento nas lutas atuais para alcançar os direitos fundamentais dos povos afrodescendentes. Nos Estados Unidos, vocês conhecem a luta permanente que existe, mas que se intensificou muito após o assassinato de George Floyd. E o Haiti desempenhou um papel muito importante no que chamaram, na década de 1940, de Renascimento do Harlem e tudo mais. Havia uma ligação, ainda mais forte do que agora, entre os militantes norte-americanos e a população haitiana. E os setores progressistas dos Estados Unidos desempenharam um papel fundamental na luta contra a ocupação norte-americana no Haiti. A saída das tropas norte-americanas em 1934 também se deveu muito à militância, às pressões dos grupos progressistas nos Estados Unidos. Um jornal de esquerda como o La Nación, dos Estados Unidos, fez uma campanha mostrando todos os abusos e massacres cometidos pelos soldados norte-americanos no Haiti. Então, para nós, é um vínculo importante para realmente atualizar a contribuição do Haiti nas lutas de emancipação na esfera continental, sobretudo. Vocês conhecem a história de Bolívar, que veio para o Haiti e ficou três meses aqui, em um momento em que estava completamente derrotado militarmente. Ele saiu daqui com armas, munições, navios e soldados, e escreve nas suas memórias que, sem a presença dos 350 soldados haitianos, teria sido impossível derrotar a Espanha. Então foi uma contribuição muito importante e, infelizmente, isso não é mencionado nas comemorações dos 200 anos de independência da América Latina. Então é preciso recuperar isso.

O mais trágico é que a maioria das nações latino-americanas também contribuiu para isolar o Haiti, porque não concordava com a revolução social que ocorreu aqui. No Brasil, por exemplo, houve um anti-haitianismo que apresentou a Revolução Haitiana como uma revolução sangrenta, bárbara, que não deveria se repetir no Brasil. Assim, manter os escravos como escravos até finais do século 19 contribuiu para o isolamento do Haiti. E acho que isso precisa ser revisto hoje. Reconhecer o Haiti, reconhecer a importância das contribuições históricas do Haiti é hoje essencial no trabalho de interligação das lutas setoriais. Porque uma das vitórias do imperialismo hoje é que, apesar do dinamismo das lutas que temos agora, e temos muitas, elas são fragmentadas. 

Uma das coisas importantes que Dessalines fez na sua proclamação da independência do Haiti, por exemplo, foi revogar o nome “Saint-Domingue”, com que a França tinha batizado o Haiti, e recuperar o nome indígena. E chamou “Haiti”, que é um nome Taíno, afirmando a necessária conexão entre os povos afrodescendentes e os povos indígenas da América Latina. É uma conexão essencial para podermos avançar hoje em direção a um projeto revolucionário.

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Na sua opinião, qual balanço das ações da Minustah [Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti, comandada pelo Brasil entre 2005 e 2017] no Haiti? Quais as expectativas em relação à política externa brasileira do governo Lula daqui para frente?

Trágico, trágico, isto é, terrível. O balanço da Minustah no Haiti foi catastrófico para o povo haitiano. Contribuiu muito para enfraquecer o Estado. Contribuiu para aumentar a dependência frente aos Estados Unidos. E gerou uma aliança estratégica com a extrema direita. Realizamos três eventos, um em 2018, um no seminário internacional em 2019 contra os crimes da Minustah no Haiti, e um tribunal popular sobre o crime da cólera em 2020. Queremos realizar o quarto evento em dezembro deste ano. Estamos priorizando dois tipos de vítimas – há mais, mas privilegiamos dois tipos. Primeiro, as mulheres estupradas, as crianças órfãs, porque muitos dos soldados partiram sem deixar endereço, e a cólera.

Acreditamos que é muito importante que haja uma indenização e reparação exemplares para o crime da cólera, uma doença que não existia no Haiti e que foi introduzida pelas tropas das Nações Unidas em condições de negligência inaceitáveis. Quando as tropas nepalesas chegaram ao Haiti para permanecer 18 meses, estava havendo uma epidemia de cólera no Nepal. Portanto, a diretoria da Minustah não tinha desculpa para não fazer exames médicos para averiguar o estado de saúde dessas pessoas. É realmente um crime inacreditável e que foi encoberto. Durante mais de três anos, as Nações Unidas tentaram esconder que eram responsáveis ​​pela introdução da cólera. Usaram até especialistas da OMS, a Organização Mundial de Saúde, que vieram aqui dizer que: “Sim, é o ambiente depois do terremoto o que explica a cólera”, para desvincular a cólera da chegada dessas tropas. Mas depois, claro, felizmente, houve investigações de universidades norte-americanas, e de uma universidade na Suíça e outra na França, que mostraram que [a doença] veio do Nepal, o que é muito evidente.

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Depois disso foram feitos alguns projetos, mas nada realmente para compensar as famílias dos 40 mil mortos. Oficialmente dizem que são 10 mil, mas todos os especialistas dizem que são pelo menos 40 mil mortos, porque muitas das comunidades afetadas tinham que caminhar sete horas para chegar a um ponto de reidratação e sete horas é muito, você morre se está com cólera. Ou seja, muitas pessoas morreram sem chegar ao hospital e não foram registradas. São 40 mil mortos e 800 mil infectados, além de danos muito significativos para a economia. Por exemplo, a produção de arroz entrou em colapso, porque muitos agricultores que viajam todos os anos para trabalhar na produção de arroz não queriam ir e pôr os pés na água em um local onde havia cólera. Assim, a produção de arroz despencou e durante mais de dois anos a República Dominicana proibiu a importação de produtos agrícolas do Haiti, sob o pretexto de que estavam contaminados com cólera. Portanto, são danos econômicos realmente importantes que devem ser reparados.

Dizemos isso até pela credibilidade das Nações Unidas. Se eles mandam uma força de estabilização que produz isso, não podem continuar falando das Nações Unidas como um espaço de luta pelos direitos humanos. Portanto, acho importante que o governo brasileiro tire suas conclusões sobre esse balanço e participe exigindo que haja uma avaliação independente em nível mundial do trabalho da Minustah, e que entre em novas modalidades de cooperação com o Haiti. Isso me parece muito importante e acredito que é algo que o governo Lula pode fazer, e também temos muita esperança de que uma nova linha de cooperação seja definida. Inclusive, saindo da dependência dos Estados Unidos, da França e dos imperialistas, nos parece importante para o Haiti gerar um vínculo com a dinâmica do Brics e com toda a nova dinâmica de integração soberana latino-americana.

Sobre uma possível nova intervenção militar no país, quais as expectativas?

Está prevista para o dia 15 de setembro uma reunião do Conselho de Segurança das Nações Unidas para adotar uma resolução que autoriza o envio – e isso é muito estranho – de uma “força não ONUsiana”. Acho que é até pior, porque, pelo menos, com as Nações Unidas existe uma estrutura jurídica conhecida. É possível recorrer a isso. Mas uma força não ONUsiana eu não sei o que faz. Não é uma coisa. Uma das hipóteses que temos é que provavelmente vão instrumentalizar as tropas da África, como fizeram com a Minustah, mas talvez utilizem também empresas privadas

Ou mercenários?

Sim, mercenários. Tudo isso pode ter consequências negativas para o povo haitiano. Portanto, somos totalmente contra. Vamos enviar cartas ao presidente do Conselho de Segurança, aos países presentes etc. Vamos continuar enviando. Já mandamos uma carta para a Rússia e para União Africana. 

Nos últimos dois anos, enviamos cerca de cinco cartas à China para explicar a situação, a nossa posição etc. Enviamos uma carta à União Africana para dizer que o Quênia não deveria se associar a essa aventura imperialista. Então eu não sei, não dá para prever o que vai acontecer. Não sei se a Rússia e a China vão vetar ou não. É muito difícil. Provavelmente vão negociar o Haiti com outra pauta, como sempre acontece, né?

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Mas faremos todo o possível para projetar a voz do povo haitiano, que não quer uma nova intervenção militar. Acreditamos que existe uma forma de acabar com a insegurança gerada pelas gangues através do controle do tráfico de armas. Sabemos de onde vêm todas essas armas. Eles vêm dos Estados Unidos e da fronteira; e não é tão difícil, com os meios tecnológicos que existem hoje, controlar o fluxo de armas e munições.

Em segundo lugar, defendemos que o cerne dessa questão é político. Em outras palavras, é preciso romper a aliança que existe entre os responsáveis ​​pelo governo haitiano e as gangues. É o elemento básico que mantém a insegurança e o porquê de essas gangues se beneficiarem do apoio do Estado: impunidade total e oferta de armas e munições.

Acreditamos também que a polícia está muito enfraquecida. A polícia precisa de apoio técnico, apoio em armamento, apoio em tudo relacionado ao controle territorial etc. E há políciais não corruptos em número suficiente para realmente conseguir construir uma aliança entre a polícia e a população para se defenderem e vencerem esse fenômeno de insegurança.

Um dos objetivos dessa ocupação militar é humilhar novamente o Haiti. Mostrar que a solução sempre vem de fora. “Vocês não podem se governar, porque são negros. Vocês pensaram que poderiam ter um Estado, mas não podem”. É o objetivo ideológico mais importante que estão definindo. E é também uma questão de dinheiro, porque dizem que há 400 milhões de dólares disponíveis para essa intervenção e eles vão lutar para ver quem fica com o maior pedaço do bolo.

Já apontei a participação de Augusto Heleno Ribeiro na tentativa de golpe de janeiro de 2023, o que mostra muito bem a característica da força militar que tivemos no Haiti. Alguns militares até disseram que o trabalho das tropas brasileiras no Haiti foi um treinamento para reforçar a repressão e o controle das favelas de São Paulo e do Rio de Janeiro. Portanto, espero que o atual governo brasileiro compreenda essa questão e permita o desenvolvimento de uma nova cooperação que realmente leve em consideração os interesses e a vontade do povo do Haiti.

Edição: Thalita Pires

 

Fuente: Brasil de Fato

3ª Marcha das Mulheres Indígenas é de 11 a 13/09, em Brasília

“Mulheres Biomas em Defesa da Biodiversidade Pelas Raízes Ancestrais” é o tema de 2023. Mobilização reúne mulheres indígenas de todo o país e tem a participação do Conselho Indigenista Missionário – Cimi, organização membro do Jubileu Sul Brasil

Por Equipe de comunicação da III Marcha das Mulheres Indígenas*

Na capital do Brasil, onde são feitas as leis que nos protegem e atacam nossa existência, uma força poderosa está se reunindo. De 11 a 13 de setembro, mulheres indígenas de todos os cantos do mundo se reunirão para a III Marcha das Mulheres Indígenas, um momento importante que transcende fronteiras e une essas guerreiras destemidas em sua luta por justiça e igualdade. Com suas vestimentas tradicionais coloridas e determinação inabalável, essas mulheres são uma força a ser reconhecida, lembrando ao mundo a ancestralidade e a força das comunidades indígenas.

A cada passo que dão, às mulheres marcham em uníssono, com suas vozes ecoando pela capital do país. Não estamos marchando apenas por nós mesmas, mas pelas inúmeras mulheres indígenas que foram silenciadas e marginalizadas ao longo da história. Nossa mensagem é clara: é hora de encerrar o ciclo de discriminação e reivindicar nosso lugar de direito na sociedade.

No centro dessa marcha está um poderoso apelo por direitos iguais para as mulheres indígenas. Essas mulheres enfrentaram inúmeros desafios e injustiças ao longo de suas vidas, mas se recusam a continuar sendo silenciadas. Exigimos acesso a cuidados de saúde de qualidade, educação e oportunidades econômicas. Lutamos pela proteção da terra e recursos naturais, que vêm sendo explorados por muito tempo. Defendemos o fim da violência contra as mulheres indígenas, um problema generalizado que tem atormentado nossas comunidades há gerações.

À medida que a III Marcha das Mulheres Indígenas se aproxima, a determinação dessas mulheres aumenta. Essas vozes podem desaparecer das ruas, mas a mensagem continuará a ressoar nos corações e mentes daqueles que testemunharam esse momento histórico. A luta pelos direitos das mulheres indígenas está longe de terminar, mas a cada marcha, a cada demonstração e a cada voz unida, o progresso é alcançado. E enquanto houver mulheres corajosas unidas, a chama da esperança nunca se apagará.

Mulheres indígenas de todas as esferas da vida se reúnem, movidas por um objetivo comum: reivindicar suas vozes e exigir o reconhecimento que merecem. Chegou a hora da sociedade reconhecer e abordar os desafios únicos enfrentados pelas mulheres indígenas e por isso a III Marcha das Mulheres Indígenas tem uma programação toda pensada para que possamos avançar de forma organizada.

A III Marcha das Mulheres Indígenas é um evento importante que reúne mulheres indígenas de várias partes do mundo para promover a igualdade de gênero, a defesa dos direitos das mulheres e a preservação das culturas indígenas. É um lembrete poderoso de que a luta pelos direitos das mulheres indígenas não conhece fronteiras geográficas.

A participação de mulheres indígenas de diferentes países, como Jannie Lasimbang (Malásia), Helena Steenkamp (África), Margaret Lomonyang (Uganda), Rosangela Gonzalez (EUA), Julieta Maquera Llanqui (Peru), Jennifer Koinante (Quênia), Tuana Jakicevich (Nova Zelândia), Suscita Chakma  (Bangladesh), Maria Danilova (Rússia), Natália Izhenbina (Rússia), Meiliana Yumi (Indonésia), Sônia Marina Gutiérrez Raguay (Guatemala) e Pirita Näkkäjärvi Finlândia, mostra a importância do movimento das mulheres indígenas em uma escala global.

Essa diversidade de participantes destaca a universalidade das questões enfrentadas pelas mulheres indígenas, como o acesso à terra, a violência de gênero, a discriminação e a luta pela autonomia e empoderamento. Através da marcha, essas mulheres têm a oportunidade de compartilhar suas histórias, trocar experiências e fortalecer a solidariedade entre os povos indígenas ao redor do mundo.

A primeira marcha reuniu mais de duas mil mulheres de todos os biomas, em 2019. A II Marcha Nacional das Mulheres Indígenas mostrou o avanço das mulheres indígenas, reuniu cerca de 5 mil mulheres de mais de 150 povos indígenas de todos os biomas do Brasil. O evento foi organizado pela Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade (ANMIGA) e trouxe como tema, Mulheres originárias: Reflorestando mentes para a cura da terra. Nosso movimento, indicou que não se luta apenas por direitos individuais; trata-se de honrar um rico patrimônio e proteção de uma cultura ancestral.

Sabemos que não será fácil superar 523 anos em quatro anos. Mas estamos dispostas a fazer desse momento a grande retomada da força ancestral da alma e espírito brasileiros. Isso só será possível, se tivermos ao nosso lado, mães, anciãs, caciques e lideranças homens colaborando com o avanço no diálogo coletivo em prol do bem maior. Nossos maiores inimigos são as leis que não reconhecem nossa diversidade e nossa existência. Falar em demarcação de terras indígenas é gritar pela continuidade da existência dos nossos povos. Ter uma mulher indígena como primeira ministra indígena é afirmar que as mulheres são a cura da terra e a resposta para enfrentamentos à violência de gênero e racismos como o estrutural, institucional e ambiental.

Portanto, no ano de 2023, marca a continuação da luta contra garimpo ilegal e pela formação política de representação nos espaços de poder. Sim, vencemos a primeira batalha, que é experiência nos estados. Mas os trabalhos em prol da vida das mulheres são urgentes e emergentes. O mês de setembro é o mês da luta e resistência, onde queremos trazer a nossa proposta é conectar e reconectar a potencialidade das vozes das ancestralidades que são as sementes da terra que compõem a rede ANMIGA. Será um momento de fortalecimento das mulheres indígenas que estão com o corpo território em movimento, se propondo a novos diálogos e projetos para o Brasil, a partir das suas lutas e vozes. Este ano nosso tema é Mulheres Biomas em Defesa da Biodiversidade pelas Raízes Ancestrais

Programação da III Marcha de Mulheres Indígenas

10 de setembro (Domingo)

  • Credenciamento durante o dia todo para imprensa e afins no local do acampamento
  • Chegada das delegações durante o dia
  • 19h – Abertura da Marcha Oficial
    • Apresentação das delegações das originárias: Indígenas Mulheres Biomas.
    • Lançamento de livros e sites das mulheres indígenas Bioma Amazônia- FOIRN e outros Biomas.

11 de setembro (segunda-feira)

  • 8h – Grupo de Trabalho temático por Biomas:
    • Emergências Climáticas, Biodiversidades, Reflorestarmentos, Saúde mental, Acessibilidade indígena e Violência de Gênero
  • 14h – Apresentação dos grupos temáticos – Biomas Cerrado, Mata Atlântica, Amazonia, Pantanal, Caatinga e Pampa
  • 15h – Plenária Reflorestando o Congresso – com a Bancada do Cocar
  • 16h – Tribunal das ancestralidades – Júri das mulheres indígenas
  • 18h – Lançamento da cartilha de violência de gênero (ANMIGA e IPRI)
  •  20h-  Noite Cultural: I festival das Indígenas Mulheres Biomas

12 de setembro (terça-feira)

  • 8h – Plenária Internacional: Mulheres água
  • 11h – Plenária Internacional: Mulheres Sementes – Secretarias Estaduais indígenas e convidadas
  • 14h – Fortalecimento entre elas e para elas: Mulheres Indígenas, Negras, Quilombolas ocupando espaços de poder Municipais, Estaduais, Nacionais e Internacionais
  • 16h- A Bancada do cocar e as Mulheres Biomas na Política
  • 20h- Noite: Desfile das Originárias da Terra

13 de setembro (quarta-feira)

  • 8h – III Marcha das Mulheres Indígenas: Mulheres Biomas em Defesa da Biodiversidade pelas Raízes Ancestrais.
  • 14h- Diálogo com as Ministras sobre a Carta que foi entregue na Pré marcha: “Vozes da Ancestralidade dos 6 biomas do Brasil”.
  • 16h- Leitura do documento final das originárias
  • 18h- Show de encerramento com as artistas indígenas Mulheres e convidadas: A Cura Do Mundo Somos Nós. (Artistas mulheres dos 06 Biomas)

Serviço: 
III Marcha das Mulheres Indígenas – “Mulheres Biomas em Defesa da Biodiversidade pelas Raízes Ancestrais”
De 11 a 13 de setembro
Endereço: Complexo Cultural Funarte – Brasília/DF

*Com edição do Jubileu Sul Brasil

 

Fuente: Jubileu Sul Brasil

Acesso à comida, água e justiça social são temas do 29º Grito dos Excluídos e Excluídas

Plenária do Grito dos Excluídos e Excluídas em Fortaleza (CE).

“Você tem fome e sede de quê?”

Nesta semana da pátria e mais precisamente no dia 7 de setembro, serão realizadas mobilizações do 29º Grito dos Excluídos e Excluídas em todos os estados do Brasil: atos públicos, celebrações, caminhadas, carreatas, apresentações culturais, cirandas, romarias, lives, seminários, rodas de conversa, oficinas, programas de rádio, entre outras atividades programadas.

Confira AQUI o Mapa do Grito em todo o Brasil

Pré Grito dos Excluídos e Excluídas em Mossoró (RN)

O Grito acontece desde 1995 marcando o 7 de setembro como dia de luta dos excluídos e excluídas da sociedade por um país independente, com justiça social e vida digna para todos e todas, com acesso a direitos fundamentais, equilíbrio econômico e desenvolvimento da ciência e tecnologia. Um país em que a Vida esteja sempre em primeiro lugar.

Com a pergunta: “Você tem fome e sede de quê? ”, que é o lema deste ano, o Grito dos Excluídos e Excluídas convida todas e todos à reflexão e ação em busca de alternativas para os enormes problemas que o povo enfrenta com a questão da fome e da água.

Em Aparecida/SP, o Grito acontece junto coma 36ª Romaria das Trabalhadoras e Trabalhadores, tendo por lema “Com Maria, rezamos e lutamos porque temos sede e fome de justiça”. A missa que será celebrada no Santuário de Nossa Senhora Aparecida, por Dom Reginaldo Andrietta, vai ser transmitida ao vivo pela TV Aparecida.

Pré Grito dos Excluídos e Excluídas em Canoas (RS).

Água e alimento

No Brasil, 100 milhões de pessoas não têm acesso à rede de esgoto e falta água potável para 35 milhões. Os dados integram um relatório de março deste ano, feito com base nos indicadores de 2021 do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento.

Segundo relatório da Organização das Nações Unidas (ONU), publicado em junho deste ano, o Brasil tem 21 milhões de pessoas que não têm o que comer todos os dias e 70,3 milhões em insegurança alimentar. Sendo que 10 milhões de pessoas estão em situação de desnutrição.

Dalila Alves Calisto, do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), mestra em Geografia, afirma que “a água é um direito humano, um bem comum e um Patrimônio da Humanidade, que deve estar sob o controle popular e não das grandes empresas multinacionais. O Brasil possui a maior reserva de água potável do mundo (13%), no entanto, pelo menos 35 milhões de brasileiros e brasileiras seguem excluídos e excluídas do acesso regular de abastecimento e outros serviços”. 

Segundo Vera Vilela, nutricionista, educadora em saúde e mestra em saúde pública, “a fome não é um fenômeno vinculado às questões pontuais, como a seca por exemplo, mas historicamente faz parte da estruturação da sociedade brasileira, desde o período colonial, através de uma inclusão desigual dos diversos grupos sociais nas diversas regiões do país”.  

Confira AQUI a coletiva de imprensa

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Patrícia Cabral: (92) 9424-2089

Frei Zeca: (15) 98800-1729

Marcus: (81) 9600-1090

Irenir Jesus (79) 9820-2719

Sandra Quintela (21) 98842-6472

 

Fuente: Jubileu Sul Brasil